O dia estava cinzento, a chuva fina adentrava pela janela do meu quarto e lavava meu rosto. Eu ouvi seus barulhos na cozinha, estava preparando nosso café, “amargo para nos sentirmos mais doces”, ela dizia.
Fiquei parado na porta a observando arrumar a mesa daquele jeito doce que ela fazia. Canecas viradas para a mesma direção, talheres enfileirados, tudo simetricamente organizado. Ela tinha essa mania comum, mas a praticava de maneira singular, cantarolando alguma música que vinha em sua cabeça. Sentei à mesa e nos servi o café. Ficamos em silêncio, o olhar dela estava perdido e eu me perdi com ele.
Em algum momento ela olhou para mim, deu um sorriso e disse “bom dia”. Uma lágrima caiu dos seus olhos e deslizou pela sua pele branca até chegar à boca, onde contornou o leve sorriso. Então ela não mais segurou aquele excesso de sentimento que transbordava pelos olhos e ficou paralisada olhando para mim, deixando seu rosto molhar com suas lágrimas finas como a chuva lá fora. Abracei-lhe e perguntei o que havia acontecido, e ela me respondeu docemente:
-Eu sonhei que você me amava, e me amava tanto.
Nada disse, fiquei a acariciar seus cabelos até o sol aparecer lá fora e dentro dela.
(Texto de minha autoria: dez/2010)
Veia literária forte pulsando aí. Lindo!
ResponderExcluirObrigada, Fernanda! Foi uma época inspiradora pra mim... depressiva, na verdade. Atualmente não vem nada à minha mente.
ResponderExcluirLindo!!!! Invista nisso. Quem sabe não sai um livro de crônicas por aí?!
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