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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Desabafo de uma revolucionária covarde

    Entrar no facebook tem me dado tristeza, e me estressado também. Com essa onda de manifestações pelo Brasil, meu feed de notícias são só denúncias, calamidades, violência, discussões políticas... Sinto falta das piadinhas. Às vezes penso que eu seria uma pessoa mais feliz se fosse alienada. Acho que a alienação faz bem à felicidade e à tranquilidade.
    Sou completamente a favor das manifestações, até queria ter ido em todas, mas acho que sou uma revolucionária covarde. Tenho realmente medo das violências que têm ocorrido nas manifestações. Acabei de realizar meu sonho (entrar na faculdade de Medicina) e não quero levar um tiro de bala de borracha no olho. Também tenho problemas respiratórios e gás lacrimogêneo não me faria bem. Desculpas esfarrapadas,  talvez, mas sou uma pessoa precavida e medrosa mesmo.
    Não me entendam mal. Não sou uma pessoa alienada, fútil, nojenta, egoísta etc. Queria sair por aí com meu cartaz clamando por justiça. Mentalmente e virtualmente estou fazendo isso. E sabe que mesmo sem ir às ruas eu me sinto violentada, cansada, saturada? A cada texto que leio me sinto sofrendo o que foi descrito. A cada foto que vejo me sinto lá, e isso já me desgasta demais. Mas sabe o que mais me violenta e  o que mais me desgasta? Saber que a cada notícia que leio, a cada depoimento, a cada foto, a cada qualquer coisa que é enviada pra mim, eu posso estar sendo manipulada. Não é ruim viver com esse sentimento? Afinal, onde está a verdade? Quem é bom ou ruim?
   Ato Médico, Cura Gay, Feliciano, Renan Calheiros, corrupção, SUS, educação, transporte, salário digno, salário absurdo para políticos, fome, médicos cubanos, Dilma, PT, PSDB, esquerda, direita, Globo, teorias conspiratórias... Estou cansada e sei que não sou só eu. Já estava cansada antes, frustrada, desacreditada desse país. Eis que surgiu o movimento, levantou a poeira, o gigante acordou (ou só levantou pra ir ao banheiro?), piadinhas sumiram, dezenas de coisas aconteceram. Acredito que acontecerá coisas boas com tudo isso, mas falam de golpe de estado, manipulação, que somos burros, que somos demais, que somos o quê, afinal? O que eu sou no meio dessa massa? O que eu acredito é certo? O que eu defendo é bom? Sou massa de manobra? Isso tudo deixa a minha cabeça a mil! Só eu que sinto isso?
    Sabe o que eu quero, de verdade? Quero poder trabalhar num SUS que não me deixe frustrada. Quero poder pedir exames para meus pacientes e ter leitos suficientes para eles. Quero trabalhar no interior sim, Dilma, mas quero olhar para os meus pacientes e poder tirar a dor e o sofrimento deles. Quero poder entregar meus filhos à uma educação decente e deixá-los andar de ônibus sem medo. Quero andar nas ruas a noite sem ficar olhando para todos os lados com medo de ser violentada. Quero investimento na população. Quero justiça aos animais. Quero justiça aos moradores de rua. Na verdade, não quero atravessar a cidade vendo aqueles humanos deitados em papelão. Quero paz para mim, para a minha família, para os meus vizinhos, para a minha cidade, para o meu país. Quero abrir um jornal e ver o quanto o meu país é abençoado. O que eu quero é demais? Não. É meu direito, é nosso direito.
    Tenho medo sim de ir às ruas pedir tudo isso e agradeço de coração as milhares de pessoas que têm feito isso por mim. Eu também estou na luta, do jeito que consigo estar, e é de corpo e alma. 
    
    Eis aqui o meu desabafo.

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